Em setembro de 2020 fez 40 anos que o centro histórico de Varsóvia recebeu o título de patrimônio mundial da UNESCO. Dá para entender o motivo uma vez que o antigo centro da capital polonesa é bonito, organizado e a História da cidade (e de toda a Polônia) é relevante para a História do mundo. O que impressiona nisso tudo é que cerca de 90% de Varsóvia foi destruída na Segunda Guerra Mundial e os poloneses reconstruíram o centro da cidade o mais fiel possível. Não sei se temos outros patrimônios pela UNESCO que são réplicas, mas essa pelo menos foi muito bem feita.
Praça do antigo mercado em Varsóvia, no centro antigo (Rynek - Stare Miasto)
Varsóvia já passou por várias transformações e nem sempre foi a capital da Polônia (aliás a Polônia também já teve diversas configurações diferentes do que o que conhecemos hoje). Mas a maior e mais significativa mudança foi a destruição e reconstrução no pós-guerra. Nas aulas de História do colégio, pouco se fala sobre a Polônia, mas definitivamente foi um dos países que mais sofreu na Segunda Guerra devido à sua localização, exatamente entre Alemanha e Rússia. O país e o povo polonês são exemplos de reconstrução, não só por conta da guerra mais famosa, mas em outras ocasiões também e brasileiro geralmente não fica sabendo dessa parte da História. Acho que esse foi um dos motivos que eu gostei tanto do país, quero muito voltar em breve e cada dia que leio mais sobre lá para fazer os posts do blog, me apaixono um pouquinho mais!
Varsóvia até 1939
O centro antigo de Varsóvia (ou Stare Miasto) foi estabelecido no século XIII, mas só se tornou a capital do país na segunda metade do século XVI, quando o rei polonês Sigismundo III transferiu a capital de Cracóvia para lá. Foi ocupada pelos suecos e pelos russos e até por Napoleão Bonaparte nos séculos seguintes. A população em 1939 era de aproximadamente 1.290.000 habitantes e a cidade era chamada até de "Paris do leste". Deixo 2 vídeos para vocês terem uma ideia da beleza que era Varsóvia.
Enquanto isso, os alemães colocavam em pratica seu plano de terror para dominar as terras polonesas eliminando a população, que era considerada inferior. Cerca de 35% dos quase 1,3 milhão de habitantes de Varsóvia eram judeus e cerca de 450 mil deles foram obrigados a viver em um gueto murado na capital, ocupando somente cerca de 2,4% do território da cidade. Como eram muitas pessoas em um espaço apertado, as condições de higiene eram precárias, além da dificuldade em conseguir alimentos. A ração para os judeus era de somente 184 calorias por dia e doenças se alastravam facilmente pelo gueto, como a tifo. Alguns trabalhavam em fábricas alemãs dentro do gueto.
Agosto de 1940: por ordem das forças de ocupação alemãs começa a construção do muro do gueto de Varsóvia.
Em 1942, cerca de 32 mil judeus do gueto de Varsóvia foram enviados para o campo de concentração de Treblinka (não muito longe de Varsóvia) e mortos. Eles saiam pela "Umschalaplatz" (Collection Point), onde hoje tem um monumento. Abaixo, tem a marcação do antigo gueto de Varsóvia no mapa atual da cidade. Na realidade eram 2 guetos, um menor e um maior.
Podemos entender mais sobre o Gueto de Varsóvia nos filmes "O Pianista" e "O Zoológico de Varsóvia". Assisti o filme (que é baseado em um livro) ano passado e adorei! Não conhecia a história do casal Zabinski que administrava o zoológico (no distrito de Praga, do outro lado do rio), ajudou muitos judeus no gueto da cidade e posteriormente escondendo alguns em casa. O marido também lutou no Levante de Varsóvia e eles conseguiram ajudar mais de 300 judeus a fugirem da cidade.
O Levante do Gueto de Varsóvia (1943) e o Levante de Varsóvia (1944)
O Levante do Gueto de Varsóvia foi um ato de resistência no Gueto de Varsóvia, na Polônia em 1943, contra a ocupação nazista alemã. Naquele ponto, os judeus que ainda restavam no gueto já sabiam que os que saíam, não voltavam mais e preferiam morrer lutando, ao invés de morrer em uma câmara de gás. Em 19/04/1943, cerca de três mil nazistas confrontaram a resistência de 1,5 mil moradores do gueto. Os judeus dispararam e atiraram granadas contra patrulhas alemãs a partir de becos, esgotos e janelas. Os nazistas responderam derrubando as casas e matando todos os judeus que podiam capturar e a insurreição terminou oficialmente em 16/05, com a destruição da sinagoga. Himmler, que tinha promovido o comandante do campo Rudolph Höß a comandante da SS principal, ordenou o despovoamento do gueto de Varsóvia - ele queria a "limpeza total". Tem um filme de 2001 (Uprising ou Insurreição) mostra um pouco dessa parte da História - trechos abaixo:
Já mais para o final da guerra, com o exército soviético chegando ao distrito de Praga (do outro lado do rio Vístula), os varsovianos (palavra que acabei de aprender) que não queriam nem ser conquistados pelos russo e nem continuar nas mãos dos alemães protagonizaram um episódio conhecido como "Levante de Varsóvia", quando 50 mil homens aproximadamente, usando técnicas de guerrilha - por exemplo se movimentando pela cidade através dos esgotos, tentaram se livrar dos alemães. Os poloneses já conheciam os métodos de terror que os soviéticos estavam aplicando nos territórios ocupados por eles e até de outras guerras anteriores.
O "Home Army" esperava ajuda dos Aliados, mas a ajuda prometida não chegou e eles não tinham muitas armas para enfrentar um exército bem maior. A insurreição começou em 01/agosto/1944 e depois de 63 dias, 18 mil insurgentes morreram. Até hoje esse dia é lembrado na Polônia quando fazem uma homenagem aos que lutaram e morreram. Às 17h, sirenes tocarem em todos os lugares do país, seguido de um minuto de silêncio. Este é considerado o maior grupo de resistência contra o nazismo durante a guerra (e só tinham armas para cerca de 10% deles). Do outro lado do conflito, eram cerca de 20 mil alemães totalmente equipados. O símbolo Kotwica (âncora, com P + W estilizados) representa o Estado Secreto Polaco ou Polish Underground State.
A maior parte da informação deste post, peguei no site Warsaw Rising, elaborado pelo Museu do Levante de Varsóvia, de onde tirei os prints abaixo e outros a seguir no post.
Área ocupada pelos insurgentes durante o conflito
Em 18 de setembro o exército americano conseguiu levar armamento, munição, comida e remédios para os insurgentes, jogados de aviões, mas só 20% dos bens chegou ao grupo. Entre as construções da cidade que foram marcos do Levante, podemos destacar a St. Kazimierz Church of the Sisters of the Holy Sacrament, que se tornou um hospital insurgente. Em um ataque aéreo, mais de mil pessoas morreram na igreja.; a St. John the Baptist Archcathedral, onde aconteceu uma importante batalha entre 21 e 27 de agosto. Os alemães destruíram completamente a catedral; o antigo Arsenal (hoje Museu Arqueológico), que era um ponto estratégico de defesa do acesso à cidade antiga pelo oeste. Um ano antes do levante, uma operação ali havia libertado 20 prisioneiros da Gestapo. Foi bombardeado pelos alemães em 23 de agosto; chocolateria Wedel, cujo porão servia de abrigo para os insurgentes e uma rádio era operada dali; cinema Palladium, onde os insurgentes passavam filmes sobre a luta em Varsóvia. Hoje funciona um teatro no local; PAST -Polish Joint-Stock Telephone Company, até 20 de agosto nas mãos dos alemães, mas capturado pelos insurgentes e um dos maiores sucessos militares do grupo. No alto do prédio foi colocado o símbolo da âncora; Prudential, o prédio mais alto da Polônia na época, capturado pelos insurgentes no dia 1 de agosto, fincaram a bandeira do país do teto. Depois da guerra reconstruído em estilo soviético e hoje abriga um hotel e a Gdansk Railway Station, onde aconteceu a batalha mais sangrenta por 2 noites, com morte de 500 alemães. Todos estes locais estão marcados em um mapa no final do post.
Até as crianças entraram na dança, por exemplo levando recados ou comida para pessoas em diversos pontos da cidade. Mas o exército alemão mesmo próximo ao final da guerra, ainda era numericamente maior, mais preparado e armado do que os insurgentes e a batalha foi perdida em outubro, depois de 63 dias de luta. A cidade foi reduzida às cinzas pelos alemães, como retaliação, além da morte de 150 mil civis aproximadamente. Somente no dia 5 de agosto, 20 mil civis morreram. O levante acabou dia 2 de outubro quando os poloneses se renderam.
Os alemães queriam aniquilar Varsóvia completamente então deportaram a maior parte dos sobreviventes mesmo sendo poloneses e não judeus - cerca de 500 mil. Poucos continuaram vivendo nas ruínas a oeste do rio Vístula. Calcula-se que cerca de 25% da cidade foi destruída nos combates urbanos durante o Levante e 35% quadra a quadra pelos alemães posteriormente. Somando o que foi destruído em 1939 quando a cidade foi invadida, a destruição chegou a aproximadamente 85% de Varsóvia até janeiro de 1945. Em 1945, os alemães tiveram que desocupar a cidade para proteger outras áreas do Reich, que já estava enfraquecido e quase perdendo a guerra. Ao final da guerra, cerca de 2/3 dos habitantes de Varsóvia tinham morrido na guerra, nos levantes ou levados para campos de concentração. Mais informações sobre a destruição de Varsóvia (em espanhol).
No mapa de cima, Varsóvia em 1939. No mapa de baixo, planos dos alemães para uma futura cidade no local depois da destruição na guerra.
Reconstrução do centro histórico de Varsóvia e Patrimônio da UNESCO
Após o final da guerra, os soviéticos dominaram a Polônia por muitos anos e até pensou-se em não reconstruir Varsóvia, nomeando outra cidade como capital polonesa, afinal a destruição era enorme. Mas Stalin precisava garantir a Polônia na Conferência de Yalta e havia o fator humano - os poloneses já estavam voltando para reconstruir e morar na sua capital, Varsóvia. Houve um trabalho hercúleo de reconstruir a cidade. Foi decidido ainda em 1945 que o centro antigo seria reconstruído igual era antigamente, para ajudar nos ânimos da população arrasada e para contrastar com outras cidades alemãs, italianas etc que reconstruíam somente os monumentos e prédios mais importantes. O professor Jan Zachwatowicz era o chefe do escritório fundado para guiar a reconstrução da cidade - Biuro Odbudowy Stolicy (Office for the Reconstruction of the Capital) - e foi o principal responsável por manter as reconstruções fiéis, mas a ideia não era unânime. A área que ele queria reconstruir meticulosamente foi diminuída, mas ainda foi um trabalho incrível. Segue abaixo um vídeo incrível comparando alguns trechos da cidade em ruínas e nos dias atuais!
Mesmo lado da praça Rynek em 2019 - o Museu de Varsóvia ocupa as 8 casas que aparecem na foto
placa comemorativa da inscrição do centro antigo de Varsóvia (Stare Miasto) na lista de patrimônios mundiais da UNESCO em 1982
Só 6 de 260 casas na região da cidade antiga sobreviveram, mas a reconstrução foi tão meticulosa que até hoje percebemos um atmosfera medieval ali. A UNESCO considerou que a reconstrução do patrimônio foi um em escala única e uma expressão da unidade dos poloneses e determinação de uma nação.
Varsóvia também é chamada de cidade-fênix (que renasceu das cinzas). A população, com a ajuda de fundos privados, reconstruiu a cidade em 8 anos a partir de 1945, utilizando tijolos originais quando possível. Como não havia um "master plan" da cidade, o Departamento de Preservação de Varsóvia (Warsaw Preservation Department - WPD), utilizou-se de pinturas do italiano Bernardo Bellotto (sobrinho de Canaletto) para basear as reconstruções. Suas pinturas não eram 100% precisas, mas muitas vezes era a única maneira de saber como os prédios eram no passado.
A parte tombada como patrimônio pela UNESCO é a região do antigo mercado, o circuito das muralhas com o Barbican, o Castelo Real de Varsóvia, a Coluna de Sigismundo ou Coluna de Zygmunt,prédios religiosos da área (como a catedral) e casas que serviam como moradia e lojas na área da Stare Miasto.
O processo de reconstrução continuou até o meio dos anos 60 e foi considerado terminado com a abertura do Castelo Real para o público em 1984. O layout urbano e desenho das ruas foi mantido na área, mas parte da muralha está mais baixa, a fim de proporcionar melhor uso do espaço urbano pela população. O interior da maioria dos prédios também foi pensado para o uso que teria no futuro. Um dos lados da praça do mercado foi projetado para abrigar o museu da cidade, unindo 11 prédios com diferentes alturas, sendo 8 deles de frente para a praça.
Muitos prédios da "Cidade Nova" (ao lado da cidade antiga) - Nowe Miasto, e da Royal Route (rota real entre o castelo no centro e outro castelo nos arredores da cidade, onde ficavam diversas instituições importantes) foram replicados de acordo com os originais para manter o padrão, mesmo não estando entre os patrimônios da UNESCO.
Hoje Varsóvia passa de 1,700 milhão de habitantes e felizmente não foi varrida da face da terra como queria Hitler. Em 2007, uma extensa renovação das muralhas da cidade antiga custaram 9 milhões de zloty (moeda polonesa que em 2019 equivalia a 9 milhões de reais, mas o real se desvalorizou muito em 2020).
Antes ou depois de Varsóvia conheça também outras cidades:
Onde ver e aprender sobre Varsóvia na Segunda Guerra e a reconstrução da cidade antiga
Fiz um walking tour que durou uma tarde inteira com a Walkative (Warsaw at war), que recomendo demais. É naqueles esquemas de pagar o quanto você achar que vale ao final do tour - só não seja sem noção de não pagar nada ou fugir antes do final! Várias das informações deste post foram ouvidas no tour, que passou por alguns dos monumentos abaixo. No mesmo dia, pela manhã, já tinha feito otour básico deles, pela cidade antiga de Varsóvia e aprendi sobre as construções importantes no centro, além da reconstrução. Além de inglês, em todos os tours que fiz no verão 2019 (foram 4 ao total em Varsóvia e vários nas outras cidades polonesas), tinha também grupos em espanhol. Confira dias e horários no site ou redes sociais, que com certeza estão mais limitados agora por conta da pandemia.
Marquei todas as atrações abaixo no mapa ao final do post. Clique no nome da atração (quando for o caso) para conferir preços, horários de funcionamento, como chegar, etc. Não conheci nenhum dos museus porque estava extremamente cansada ao final de 3 meses de viagem e também porque 5 dias foram pouco tempo em Varsóvia. Mas ainda vou voltar e faço questão de visitar todos os citados abaixo.
Stare Miasto reconstruído
Eu passei 5 dias em Varsóvia e acho que dei uma caminhada pelo centro antigo na maioria dos dias. São muitos cantinhos para descobrir!
Praça do Mercado
Praça do Mercado e rua adjacentes
Atrás da Catedral fica essa praça das 2 fotos de baixo com o sino do desejo no meio - faça um pedido encostando no sino e dando a volta ao redor dele.
Várias casas lindas indo em direção à Nowe Miasto e ao Barbican
É o principal museu sobre história da cidade, mas tem algumas "filiais" sobre assuntos específicos. As coleções são de arqueologia, pinturas, iconografias, esculturas, artes decorativas, numismática e desenhos arquitetônicos, com mais de 250 mil objetos. Fica na antiga praça do mercado, ocupando um dos lados por completo - o Dekert´s Side (com a estátua da sereia na sua frente, o museu está à sua esquerda). A primeira exposição após a guerra abriu em 1955.
Modelo do centro antigo de Varsóvia no século XVIII. A prefeitura ficava no meio da praça do mercado desde antes de 1429 e foi demolida em 1817 e por isso que na reconstrução a praça ficou bem grande e aberta. No Museu de Varsóvia. Foto: TobyJ - CC BY Sa 4.0
Pedaços, monumentos e marcações no chão do Muro do Gueto de Varsóvia
São diversos pedacinhos do muro, monumentos e ainda marcações no chão como nas fotos abaixo, espalhadas por Varsóvia. Eu até marquei um deles no mapa lá no final do post, mas o melhor jeito de achar é mesmo com um guia.
Em uma antiga estação de força usada nas linhas de trem, foi inaugurado o museu no aniversário de 60 anos da insurreição que falamos neste post. A exibição mostra a atmosfera de Varsóvia durante a luta, não só as batalhas em si, mas também o dia-a-dia dos civis. Tem audioguia em português.
Monte do Levante de Varsóvia
O morro tem uma altura de 120m, construído com as ruínas dos prédios destruídos na guerra em Varsóvia. O monumento com a âncora foi colocado por ex-combatentes do Home Army no aniversário de 50 anos do início do levante. Tem 15m de altura, mas acho bem fora de mão e sem atrativos em volta, então não visitaria e quando voltar a Varsóvia, não vou fazer questão.
Foto: Wistula - CC BY 3.0
Monumento ao Levante de Varsóvia (Warsaw Uprising Monument/Pomnik Powstania Warszawskiego)
Provavelmente o monumento mais famoso da cidade. Não fica no centro histórico, mas dá para ir a pé até lá. São 2 partes - a maior e mais famosa do lado direito, representando insurgentes de baixo de uma ponte e outro menor, à esquerda representando insurgentes entrando (ou saindo) do esgoto, porque era um meio muito comum de locomoção entre eles (para despistar os alemães). Fica na Praça Krasiński, terminado em 1989.
Monumento ao Levante de Varsóvia - essas colunas diferentonas aí atrás são do prédio da Suprema Corte Polonesa
2a parte do monumento à esquerda. No muro ali perto à direita, também tem a âncora e flores vermelhas e brancas (por conta das cores da bandeira polonesa)
Monumento ao pequeno insurgente (Mały Powstaniec)
Esse é um dos lugares que se não fosse pelo walking tour específico sobre Segunda Guerra que fiz por lá, eu não teria achado! É a escultura de um menino com um capacete grande demais para a cabeça dele, que como contei acima tinham papel importante também no grupo. O monumento foi revelado na década de 60 pelo cardiologista Dr. J. Świderski, que foi um desses meninos (14 anos) na época do levante, mas o menino retratado morreu com 13 anos durante o conflito ;(. O desenho é do artista Jerzy Jarnuszkiewicz e dá para encontrar esse menininho em vários souvenirs da cidade.
Sim gente, a foto está tremida porque tirei correndo no meio do tour - entre tentar aprender toda a História da cidade fazendo anotações, desviar de carros e dos próprios turistas do grupo, é mais difícil do que parece!
Monumento aos Heróis do Gueto (pomnik Bohaterów Getta)
Monumento de 1948, em homenagem aos que lutaram e morreram pelos judeus do gueto de Varsóvia. Feito parcialmente com material alemão deixado na cidade, dentro de onde seria o gueto. Mais informações (em inglês).
Perto do monumento acima, aberto ao público em 2013. Tem uma exposição multimídia sobre a comunidade judaica que existiu no país por centenas de anos antes do Holocausto (desde o século X). O prédio é moderno em vidro, cobre e concreto. Em 2016, ganhou o prêmio de "museu europeu do ano". Além de várias salas de exposição em mais de 4 mil metros quadrados, tem também um grande auditório e programas de educação. Algumas salas mostram como eram as cidades ou regiões judaicas, sinagogas, tradições, objetos significativos, costumes, etc. Leia aqui sobre a História dos judeus na Polônia (em espanhol).
Reconstrução da sinagoga de Gwoździec. Foto: Magdalena Starowieyska, Dariusz Golik - CC BY SA 3.0
Cemitério dos Insurgentes de Varsóvia (Warsaw Insurgents Cemetery/Cmentarz Powstańców Warszawy)
No distrito de Wola e um pouco mais longe do centro, é o maior local de enterro das vítimas do Levante de Varsóvia. São aproximadamente 104 mil pessoas enterradas aqui sem identificação, em valas coletivas na maioria dos casos. O monumento abaixo de 1973 está em cima das cinzas de 50 mil pessoas. Foram trazidas para cá outras vítimas, por exemplo da invasão alemã de 1939, e civis que morreram durante a guerra.
Foto: Jaek - CC BY 2.0
Monumento às vítimas do Massacre de Wola (Monument to Victims of the Wola Massacre (Pomnik ofiar Rzezi Woli)
Nos primeiros dias do Levante, os alemães retaliaram massacrando a população do bairro de Wola. Estima-se entre 40 mil a 100 mil mortes de civis somente entre 5 e 8 de agosto. Foi feito um monumento no bairro em homenagem à essas pessoas. O monumento é de 2004, do aniversário de 60 anos do Levante. Em granito finlandês, apresenta uma lista de endereços, com o número de vítimas de cada local (no lado oposto ao da foto abaixo). Mais sobre o massacre de Wola (em espanhol).
Lado que mostra a silhueta de 10 pessoas esperando o fuzilamento. Foto domínio público
Outros monumentos ao Levante de Varsóvia
São diversos outros pequenos monumentos ao Levante de Varsóvia espalhados pela cidade e só percebi e entendi do que se tratavam por causa do walking tour guiado que estava fazendo. Outro episódio interessante contado no tour é sobre o Reduta Bank of Poland, nas duas primeiras fotos da montagem abaixo. Além da homenagem com o símbolo da âncora e flores brancas e vermelhas, as marcas de guerra foram deixadas visíveis.
Tumba do Soldado Desconhecido
Na imensa praça Piłsudski fica a Tumba do Soldado Desconhecido, que antes da Segunda Guerra Mundial estava no complexo do Saxon Palace/Saxon Gardens. A única parte que sobrou depois da destruição alemã foi essa pequena construção abaixo. A tumba foi feita após a Primeira Guerra Mundial e homenageia os soldados desconhecidos que deram suas vidas lutando pelo país. Existem planos de reconstruir o palácio, mas os custos são proibitivos. Mesmo assim, em 2022 foi aprovada a sua reconstrução a um custo de mais de 2 bilhões de zloty e os trabalhos das fundações começaram. Foi ali que os primeiros passos para quebrar o código Enigma foram dados (antes de Alan Turning em Bletchley Park - Inglaterra, 3 poloneses estavam estudando a máquina no Cipher Bureau polonês). Desde 1925, com exceção do período da guerra, sempre tem um guarda vigiando a tumba, como símbolo de respeito.
Saxon Palace visto do jardim no século XVIII
Visto do outro lado, com um pedaço da arcada que sobreviveu com a tumba. A estátua foi transferida para outro local.
Parte do museu da cidade e pertinho da praça do mercado, o museu é focado na reconstrução da área da cidade antiga, que depois foi declarada patrimônio pela UNESCO. Aberto em 2013.
No século XIV, havia um castelo no local pertencente ao Duque de Masóvia. Em meados do século XIV, foi construída a Torre do Castelo. Quando a região de Masóvia foi incorporada no Reino da Polônia, em 1526, tornou-se residência dos reis da Polônia. Foi repetidamente devastado e saqueado pelos exércitos sueco, brandemburguês, alemão e russo e ali foi elaborada a a primeira constituição nacional moderna da Europa e a segunda mais antiga do mundo, em 1791. O rei Sigismundo III e os seus sucessores da Dinastia Vasa reuniram um grande número de ricas obras de arte no castelo, como produtos orientais, tapeçarias e numerosas pinturas de artistas famosos como Ticiano, Veronese, Tintoretto, Rembrandt e outros. Perdeu suas obras de arte em diversas guerras e saques e serviu como residência de presidentes poloneses de 1918 a 1939. Acabei não entrando, mas é muito lindo por dentro.
Castelo Real de Varsóvia em 1656 - demolido por suecos e alemães
Reconstruído aproximadamente em 1700
Em 1941 sem telhados, retirado pelos alemães para acelerar o processo de destruição
Coluna de Sigismundo ou Coluna de Zygmunt é de 1644, em homenagem ao rei que transferiu a capital de Cracóvia para Varsóvia em 1596, o Sigismundo III Vasa da Polônia. A coluna não é original e na lateral do castelo estão os pedaços originais, deitados no chão.
Fica no centro histórico e abre em poucos horários, tanto que só na milésima vez que passei ali em frente que consegui entrar. Não achei impressionante por dentro. Talvez valha mais a pena em um concerto, por exemplo. A igreja original é do século XIV e aqui já aconteceram diversas coroações, casamentos reais e funerais, além do juramento da constituição polonesa, a primeira europeia em 1791. 90% destruída no Levante de Varsóvia, a fachada gótica foi reconstruída como era.
Antiga fortificação semicircular da cidade, na transição da "Cidade Velha" para a "Cidade Nova". Em 1540 era somente um portão, mas um arquiteto italiano o transformou em um bastião de 3 níveis, cercando toda a cidade, mas não tinha muito valor tático. No século XVIII, foi parcialmente desmontado para melhorar a circulação de pessoas e mercadorias. Destruído durante a Segunda Guerra, foi reconstruído parcialmente, já como atração turística.
Onde ver e aprender sobre Varsóvia na Segunda Guerra e a reconstrução da cidade antiga - marcados no mapa
Marquei abaixo todos os museus, monumentos, lugares históricos, atrações turísticas etc citados neste post.
Todas as fotos antigas deste post são de domínio público quando não especificadas. As fontes para as informações do post estão citadas ao longo do texto.
Eu fico fissurada lendo sobre esse período da história e o tanto que realmente não aprendemos na escola, mesmo sendo um assunto que toma uma boa parte das aulas. Que incrível os sinos tocarem em homenagem ao Levante de Varsóvia, quantas perdas, quanta coragem, um verdadeiro renascimento da cidade. Que bom que a cidade fênix se levantou e hoje temos uma baita aula de história para conhecermos e vermos com os próprios olhos.
Fernanda, visitei a Polônia pela primeira vez em setembro de 2019. Sempre fui fascinada pelas histórias,livros que falam da vida/do sofrimento dos judeus e dos trabalhos de resistencia e ajuda. Calculei mal e só ficamos 2 dias em Varsóvia e 3 em Cracóvia. Quero muito voltar. Parabéns pelo maravilhoso e completíssimo post. Uma aula de história.
Que história interessante e que cidade incrível. Europa estava nos planos para 2021, mas precisarão ser adiados. Varsóvia é um dos lugares que quero passar. Parabéns pelo post e a riqueza nas informações.
Todos os comentários no "Tá indo para onde?" passam por moderação e por isso não aparecem de imediato. Ele só vai aparecer quando for respondido. Em geral, os comentários são respondidos quinzenalmente.
Eu fico fissurada lendo sobre esse período da história e o tanto que realmente não aprendemos na escola, mesmo sendo um assunto que toma uma boa parte das aulas. Que incrível os sinos tocarem em homenagem ao Levante de Varsóvia, quantas perdas, quanta coragem, um verdadeiro renascimento da cidade. Que bom que a cidade fênix se levantou e hoje temos uma baita aula de história para conhecermos e vermos com os próprios olhos.
ResponderExcluirPois eh, eh muita coisa e nem a melhor escola acho q daria conta de ensinar TUDO... ainda bem q podemos aprender viajando e lendo!
ExcluirFernanda, visitei a Polônia pela primeira vez em setembro de 2019. Sempre fui fascinada pelas histórias,livros que falam da vida/do sofrimento dos judeus e dos trabalhos de resistencia e ajuda. Calculei mal e só ficamos 2 dias em Varsóvia e 3 em Cracóvia. Quero muito voltar. Parabéns pelo maravilhoso e completíssimo post. Uma aula de história.
ResponderExcluirAcontece - eu tb calculei mal - 5 dias em Varsóvia e 7 dias em Cracóvia foi pouco... aiaiai
ExcluirQue história interessante e que cidade incrível. Europa estava nos planos para 2021, mas precisarão ser adiados. Varsóvia é um dos lugares que quero passar. Parabéns pelo post e a riqueza nas informações.
ResponderExcluirObrigada! A cidade é incrível! Vai sim e inclua outras cidades polonesas no roteiro q não vai se arrepender!
ExcluirParabéns pelo artigo mega completo! Que destino interessante cheio de histórias! Adorei viajar no tempo com você! Obrigada
ResponderExcluirObrigada!!
Excluir